Resenha: A Mão e a Luva, Machado de Assis
Publicado primeiramente em folhetim, A Mão e a Luva (1874), segundo romance de Machado de Assis, traz elementos novos à literatura do autor, aos poucos se distanciando da obra precedente, Ressurreição (1872), e passando a delinear o estilo que virá a se consolidar na fase realista — momento de produção de seus mais repercutidos romances.
A obra conta com uma trama minimalista, cujo enfoque está principalmente na análise psicológica dos personagens. O cenário é uma efervescente Rio de Janeiro, então capital do império, à época do Segundo Reinado; neste momento, a importância da Corte como um espaço cultural e social é notável, e este aspecto é trazido por Machado para as páginas do romance, assim como outras noções sociais e espaciais que contribuem para a concepção e desenvolvimento dos personagens — especialmente na figura de Guiomar.
A protagonista é construída a partir do que, nas palavras de Bosi, foi definido como o “tipo comum da mocinha bonita e viva, que o “equívoco da fortuna” fizera nascer em berço modesto”, e sua maior ambição é enriquecer e ascender socialmente. Sua idealização se baseia claramente no conceito de arrivismo social, tema recorrente nas produções do século XIX, e especialmente nas francesas, das quais, sabe-se, Machado de Assis bebeu na fonte.
A organização em romance, embora publicada de forma muito semelhante à primeira publicação, em folhetim, não deixa nada a desejar: o resultado é uma história completa, coerente do início ao fim, na qual os recursos narrativos conversam.